sábado, 1 de março de 2014

Entrevista: Mércia Dantas Tonheca

MEMÓRIA E FOTOGRAFIAS DA ALMA


Ela já está em Brasília há bastante tempo. Veio tentar a sorte, construir vida nova na capital federal. Aqui, longe da terra natal e depois de muitos anos, reencontrou o passado de sua família e se apaixonou por ele. Também descobriu que seus dedos acostumados à labuta da datilografia também eram capazes de criar, ao invés de apenas copiar. Enveredou pelo mundo dos poemas, das crônicas e dos textos inspirados em suas observações e na própria vida. Também pintou, cantou, trabalhou muito, criou os filhos... Só não conseguiu satisfazer o desejo que trouxe desde a época em que morava em Natal: aprender a tocar um instrumento e seguir a sina dos antepassados Felinto Lúcio Dantas (tio), Tonheca Dantas (avô) e Antônio Pedro Dantas Filho, o Tonheca Filho, seu pai. Em um sábado de fevereiro, conversei com ela e seu irmão, Márcio Tonheca Dantas, no Zahia, um café instalado no Sudoeste, aqui em Brasília. Um resumo do que se tratou por lá pode ser conferido a partir de agora. (robertohomem@gmail.com)

SUPERPAUTA – Você nasceu em Natal...
MÉRCIA – Nasci em Natal, no ano de 1950, a chamada “década de ouro”. Foi em um dia 4 de novembro. Nasci às 22 horas. Meu pai me contou que ele estava em uma tocata, que era como se chamavam algumas festas de antigamente. Como sabia que estava próximo de eu nascer, arranjou um substituto e correu para casa. Papai acompanhou o parto de todos os filhos. Todos os 12 nascemos em casa, pelas mãos de uma parteira. Agora somos nove.
SUPERPAUTA – Fale um pouco sobre Tonheca Dantas, o seu avô.
MÉRCIA – Infelizmente nasci bem depois do falecimento dele. A família, talvez por ser muito humilde, nunca se vangloriou muito dessa fama de bom músico que ele tem. Ouvi muitas histórias dele com meu pai quando criança. Os dois têm algumas semelhanças, como o fato de terem aprendido música cedo e de uma forma autodidata. Do meu avô, só tínhamos uma foto na parede. Acho que é a foto que o mundo inteiro conhece, pois é bem divulgada. Ele também não deixou muitos documentos. Ao longo do tempo, o nome do meu avô foi sendo resgatado e começamos, de certa forma, a enxergar melhor quem era aquele homem e o valor que ele tinha. Isso aumentou ainda mais o orgulho que já sentíamos das referências musicais e do homem virtuoso que ele era, principalmente como músico.
SUPERPAUTA – O que o seu pai comentava a respeito dele?
MÉRCIA – Das lembranças da infância, da convivência, da fartura que existia no interior. Meu pai brincava muito fazendo carrinhos com queijo. Eles tinham o hábito de comer ovos crus batidos na beira da bacia. Eram essas lembranças que meu pai gostava de contar. Não costumava contar histórias ligadas ao mundo musical, eram mais recordações familiares. Como sempre fui observadora e sempre gostei da conversa dos mais velhos, eu ouvia essas histórias e ficava encantada. Tudo passou a fazer mais sentido quando Claudio Galvão teve a ideia de escrever a biografia do vovô. Foi quando percebi o quanto a história dele era belíssima. Recomendo a todo mundo esta leitura, embora eu seja suspeita, como descendente. Mas a história é fantástica. Estou relendo com todo cuidado. Também estou animada e feliz com a possibilidade de o cineasta potiguar Buca Dantas fazer um documentário, um filme sobre a vida dele. Buca, Claudio Galvão e o maestro Humberto Bembem estão harmonizados nessa empreitada para levar a cabo o filme.
SUPERPAUTA – O livro “A desfolhar saudades – Uma biografia de Tonheca Dantas” está disponível gratuitamente no site http://www.tonhecadantas.com.br/ .
MÉRCIA – O projeto “Tonheca Dantas – O maestro dos sertões”, idealizado para celebrar o
centenário da valsa "Royal Cinema", não só disponibilizou o livro, o que achei fantástico, mas também colocou no site informações sobre meu avô e a respeito do centenário e liberou para baixar todas as faixas e as respectivas partituras do CD "Tonheca Dantas - O andarilho das eternas melodias", interpretado pela Orquestra Sinfônica do RN. 
SUPERPAUTA – Uma entusiasta do trabalho do seu avô é a pesquisadora potiguar Leide Câmara...
MÉRCIA – Outra que também é fascinada por ele é a grande pianista Maria Luiza Dantas, que gravou músicas de Tonheca no projeto “Compositores Potiguares”. Leide simplesmente o ama! Uma vez brinquei com ela, dizendo: “Leide, acho que em outra encarnação você foi filha de vovô, porque nunca vi gostar tanto de Tonheca quanto você”. É um encanto. Amo a Leide. É como se fosse uma irmã que eu ganhei na vida. Ela sabe disso. É muito especial, é encantadora.
SUPERPAUTA – Seu pai aprendeu a tocar com o seu avô?
MÉRCIA – Meu pai também foi autodidata. Ele é herdeiro legítimo também neste particular, porque vovô não queria que os filhos fossem músicos. Naquela época, como até hoje também, nem todos os músicos conseguem sobreviver da sua arte. Apesar de não receber incentivo em casa para ingressar na música, papai, aos 16 anos, já tocava seis instrumentos.
SUPERPAUTA – Imagine se o pai tivesse apoiado...
MÉRCIA – Eu lhe digo sinceramente: a maior mágoa que tenho na vida é não ter aprendido a tocar um instrumento.
SUPERPAUTA – Quer dizer que seu pai repetiu o comportamento do pai dele e não incentivou os filhos a entrarem no mundo da música...
MÁRCIO - Não me lembro de nenhum registro de meu pai incentivando, mostrando ou ensinando os filhos a participar dessa vida artística.
MÉRCIA – Ele tentou ensinar a meu irmão Marcos Antonio, já falecido. Lembro muito da insistência dele, do meu pai repetindo “Dó”. Fiquei com aquele “Dó” no meu ouvido até hoje. Meu irmão era escoteiro e nunca quis saber de música. Quem era louca por música era eu, mas meu pai nunca enxergou. Na verdade, desde pequena eu queria ser cantora e pianista. Eu cantava enlouquecidamente, gasguita e desafinada, para ver se papai ouvia. Mas ele nunca se posicionou. Então é provável até que algum de nós tivesse algum dom, alguma aptidão. Aos 40 anos, quando participei do coral do Correio Braziliense, foi quando vim conhecer música e tive o privilégio de começar a ler partituras, pois a regente dava teoria também. Foi quando satisfiz minha vontade infantil, já quarentona, de entender o que eram aqueles pauzinhos com aquelas bolinhas pretas. Era assim que eu chamava, quando era criança.
SUPERPAUTA – Seu pai foi desestimulado a ingressar na música. Como ele conseguiu adentrar nesse mundo?
MÉRCIA – Assim como vovô, logo cedo ele ingressou na Polícia Militar. Passou a integrar
a banda. Alguns anos depois ele foi para a Aeronáutica. Papai é uma figura...
MÁRCIO – A mando de mamãe... A família era matriarcal.
MÉRCIA - (risos) Mamãe era a administradora de tudo. Papai viveu um período fantástico
durante a Segunda Guerra Mundial. Vi aquele filme “For All - O Trampolim da Vitória” e não encontrei lá nem um terço do que ouvi de papai. Ele participou ativamente de todo aquele momento musical. Papai tocou com Glenn Miller e Tommy Dorsey. Tommy Dorsey fez uma partitura para papai! Papai herdou o sopro suave de Tommy Dorsey. Ele foi o mentor, o instrutor, naquela época, da suavidade que papai tem como trombonista. Cada um tem um estilo, o de papai é suave. Ouvi histórias fantásticas daquela época. Vivo pesquisando fotos de Natal de ontem. Tudo o que põe na internet acerca de Base Aérea, fico vendo se papai não está na banda. Papai sempre foi da banda de música, teve uma vida fantástica como músico. Não só pelo fato de ter herdado as aptidões da família, mas também pelo fato de ele ser um grande compositor e arranjador. Foi maestro e regente de grandes orquestras, como as do América, Aero e da Assen. Ele foi convidado para trabalhar na orquestra da TV Tupi, no Rio de Janeiro, mas não quis. Ele conhecia o Maestro Cipó e Erlon Chaves. Tinha muito engajamento com os grandes músicos.

SUPERPAUTA – Por que ele não topou fazer carreira fora do Rio Grande do Norte?

MÉRCIA – Papai sempre foi muito ligado à família. O máximo que ele conseguiu foi viajar com o Circo Tihany, como regente da orquestra. Percorreu o Brasil inteiro. Tirou licenças da Aeronáutica para fazer esse trabalho. Em Natal, as apresentações musicais eram aos finais de semana ou em datas comemorativas, atendendo a convites do poder público. Também tocava nos carnavais, naqueles palanques armados durante o dia e à noite, nos clubes. Papai tocava muito. O próprio Dosinho tem músicas que o arranjo foi feito por papai. Não encontro citações, talvez Leide Câmara tenha isso. Eles eram muitos amigos. O maestro Jonatas Albuquerque também era muito amigo dele.

SUPERPAUTA – A atividade na Aeronáutica também era relacionada com a música?

MÉRCIA – Sim, sempre na banda. Ele chegou a ser maestro. Desfilava todo ano à frente da banda. Quando não estava tocando trombone, tocava tuba.

SUPERPAUTA – Fale um pouco sobre a sua mãe.

MÉRCIA – Seu nome era Maria Bezerra Dantas.

MÁRCIO – Mamãe merece um capítulo à parte! (risos)

MÉRCIA – É verdade. (risos). Aliás, já tem o nome de um livro, “Simplesmente Maria”.Mamãe era uma mulher excepcional. Casou muito jovem, aos 14 anos. Com 15, já era mãe. Papai dizia que a conquistou tocando “Carinhoso”. Eles estavam em uma festa na Base Naval, quando papai viu aquela mulher maravilhosa, com uma flor nos cabelos. Foi uma mulher extremamente habilidosa. Apesar de nova, teve boa formação. Estudou em bons colégios internos em Campina Grande. Ela tinha habilidade para tudo e fazia com perfeição e conhecimento. Além disso, era aventureira: viajava muito e gostava de aprender as novidades. Ela aprendia e trazia para a família. Foi daquele tipo de mulher que tem um olho na terra e outro no céu. Ela foi a maior mestra de todo mundo, inclusive de papai. Foi a maior incentivadora, inclusive para que ele aceitasse os convites para tocar. Quando ele não queria, ela insistia. Lembrava que tinha a farda dos meninos e os livros para comprar. Quando papai ficava com os lábios inchados, de tanto tocar aquele trombone, ela passava “vick vaporub” e preparava aquelas caldeiradas, cabeças de galo e pirões. Fazia tudo pra ele estar sempre em forma e firme para dar conta do recado. Até porque, a família tinha muita gente e papai adorava ter filhos. Mamãe engravidava a cada dois anos. E ele sempre repetia: “onde comem quatro, comem cinco”. Eu escutei essa história até chegar “onde comem onze, comem doze”. Meu irmão mais velho, então médico, foi quem deu um “stop”. Ele fez mamãe ganhar o último filho numa maternidade e mandou fechar a fábrica. Se não eles teriam muito mais.

MÁRCIO – Ela administrava a vida de tudo e de todos à perfeição. Administrou a vida dos doze filhos, dos netos e bisnetos enquanto pode.

MÉRCIA – Até que teve AVC. Mesmo assim, ainda resistiu 18 anos. Infelizmente nos deixou.

SUPERPAUTA – Ela sentia muitos ciúmes do seu pai?

MÉRCIA – (risos) Alucinadamente. Inclusive, depois do AVC nenhuma mulher pode mais encostar perto dele.

MÁRCIO – Não é exagero: ela dá um livro à parte.

MÉRCIA – Mamãe é um livro à parte. Márcio mora em Brasília há 28 anos e eu já estou aqui há 42. Cheguei em janeiro de 1972. Casei e vim direto para cá. Não há um dia só que a gente não se reúna e lembre de nossa mãe. Ela realmente está em nosso sangue.

MÁRCIO – Ela tem histórias muito divertidas e engraçadas.

SUPERPAUTA – Conte uma delas.

MÉRCIA – Quando estava muito aperreada, ela começava a chamar os filhos: “Mara, Meire, Mércia, Márcia... Diabo, venha qualquer uma!”. (risos).

MÁRCIO – Eram muitos filhos e todos começando com a letra “M”. Ela começava a chamar e não acertava. Perdia a paciência: “Diabo, venha qualquer uma!”. Era muito engraçada.

MÉRCIA – Ela também era muito valente, nunca teve medo de nada. Outra coisa engraçada: os pais dela, meus avós maternos, moravam no Rio de Janeiro. Antigamente, quando eu tinha entre 10 e 15 anos, tinha o CAN (Correio Aéreo Nacional) na Base Aérea de Natal. Tinha toda uma facilidade para parentes dos militares, que podiam viajar de graça. Bastava ter vaga. Quando ela estava muito cansada e ia à Base para alguma consulta médica, depois passava no CAN à procura de vagas para o Rio de Janeiro. Se tivesse, mesmo sendo para aquele mesmo dia, ela deixava seu nome entre os passageiros que viajariam, corria para casa, arrumava as roupas rapidamente e deixava um bilhetinho. Saía antes de papai voltar, para ele não praguejar. Ela escrevia: “Tonho, papai está muito doente, fui para o Rio de Janeiro”. A gente sabia que era mentira. Era presepada dela para poder dar no pé e descansar um pouquinho.

MÁRCIO – Ela passava no CAN dez ou onze da manhã, e o cara dizia que às quatro ia sair um avião. Ela chegava em casa: “corre, corre, corre, pega a frasqueira, fulano... Diabo, pega a frasqueira”. Arrumava a bagagem, deixava o bilhete e ia embora, vazava para o Rio de Janeiro. Ficava um, dois ou três meses, até que tivesse resolvido o que tinha de resolver e conseguisse vaga em um avião de volta. Ela era muito especial.

SUPERPAUTA – Você me disse antes do início da entrevista que seu pai provavelmente teria sido um músico melhor do que Tonheca Dantas, o pai dele.

MÉRCIA – Eu acredito nisso. Roberto Monte perguntou outro dia se eu tinha registro da música do meu pai, alguma partitura. Infelizmente não tivemos essa compreensão da importância desse patrimônio. Não guardamos documentos, partituras, gravações... Quantos documentários fizeram com papai e a gente não tem uma cópia? Lá mesmo em Natal, a Universidade, a TV Ponta Negra... Embora papai nunca tenha percebido, eu era a sombra dele. Simplesmente era fascinada por ele. Tudo o que ele fazia, eu estava junto. Ele foi do Clube dos Caçadores, quando ia preparar a espingarda, eu estava lá, vendo. Ele voltava das caçadas, eu estava lá. Ele ia limpar o trombone... Papai usava tomate para dar polimento, era um segredo dele. Agora eu já posso contar, porque ele quase já não usa mais. Usava creme “Pond’s” para deslizar a vara. Tudo o que papai fazia eu acompanhava atentamente. A letra dele é igualzinha a de vovô, é impressionante. Aquela letra linda, desenhada. As partituras dele são fenomenais. Em 1981 ele veio a Brasília e foi apresentado no Clube do Choro por alguns amigos músicos. Fez o maior sucesso. Ele chegou a compor um choro para uma flautista que se apresentava no Clube do Choro e compôs uma música na sala do meu apartamento. Primeiro começou a assoviar, e fez uma música chamada “Livinha”. Que eu saiba é a única descendente dele que tem. Da mesma forma que o meu avô só tem uma música que fez para uma filha, a minha tia Antonia: “Saudades da minha filha”. Então, até isso eles têm em comum. Meu avô só fez uma música para descendente e papai também. A vida repetiu também essa particularidade. Acho fenomenais essas repetições que não foram combinadas, que não foram programadas.

SUPERPAUTA – Seu pai tem registros fonográficos, deixou gravações ou músicas divulgadas?

MÉRCIA – Não que eu tenha conhecimento. Leide Câmara ficou incumbida disso. Meu pai deve sair agora na segunda edição do “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, organizado por ela. Recentemente ela me enviou o cadastro dele para refazer, e eu refiz. Está para ser lançado o livro. Perdi o contato mais amiúde com ela. Não sei exatamente o que Leide conseguiu descobrir. Fred Rossiter é outro que tem procurado, ele que também é um grande pesquisador de Natal. Roberto Monte está em busca de uma música com a qual papai ganhou um concurso de melhor compositor de frevo. A canção homenageava Djalma Maranhão. Vão resgatar o Djalma Maranhão agora em abril. Se acharem essa música de papai, ela vai ser citada. Tem outras gravações e músicas, inclusive de Dosinho, que foi um dos compositores da música da campanha dele “De pé no chão também se aprende a ler”. Lembro dessa música até hoje. Estão procurando esse registro.

SUPERPAUTA – Do que você gostava de brincar quando criança?

MÉRCIA – Nasci na Rua Elviro Carrilho. Márcio também. Essa rua fica entre as famosas 11 e 12. Em Natal tem essa coisa da numeração. Nossa infância foi muito feliz. Estudei no Instituto Padre Miguelinho, depois fui para o Sagrada Família, o Atheneu e depois voltei para o Padre Miguelinho, já no científico. A nossa infância foi feliz, primeiro porque morávamos em uma rua onde todos nos conhecíamos. Eram os mesmos vizinhos sempre. A gente conhecia o carteiro, o guarda do mercado ali de cima, todo mundo. Nós íamos para o jardim de infância, eu e meu irmão, em uma lotação. Antigamente não tinha ônibus. Todo mundo sabia onde passávamos que éramos filhos de Tonheca e Maria. Era uma vida muito saudável. Mamãe fazia muitas festas, comemorava os aniversários todos. Eram muitas brincadeiras. Tínhamos uma educação rígida de horários, pelo fato de meu pai ser militar e de minha mãe ser herdeira de coronéis e de freiras. Ela estudou com freiras a vida inteira.

MÁRCIO – Nos conduzia literalmente na rédea curta.

MÉRCIA – A gente tinha horário, lugar para sentar, três minutos de banho para cada um... Era tudo muito militar, mas, por outro lado, eles eram muito modernos. Mamãe especialmente. Tínhamos espaço para tudo, mas também a hora de fazer nossas atividades em casa. Estudávamos bastante e cada um cuidava do seu material escolar. Faltar aula não era permitido. Tínhamos muito cuidado na hora de engraxar os sapatos  e também as pastas de couro onde levávamos os livros para a escola, porque aquele material passava de irmão para irmão. Era o tempo do livro de admissão. Brincávamos de roda, de cantar. Como gostava muito de música, queria ser cantora. Onde tinha música eu estava no meio. Lembro das brincadeiras de roda... Até fiz um registro disso, escrevi uma cronicazinha de São João um tempo desses. Com certeza faz parte das minhas grandes lembranças.

MÁRCIO – Era permitido fazer festas nos finais de semana, que a gente chamava de assustado.

MÉRCIA – Mas tinha que ter os mais velhos para tomar conta dos mais novos. Para ninguém se perder. (risos)

MÁRCIO – Mamãe permitia que os filhos promovessem festas em casa para chamar os amigos. Era tudo muito rigoroso, mas nossos pais permitiam que a gente aproveitasse as fases da vida.

MÉRCIA – Nossa casa era uma casa de festa. Era “a casa”. Eles fizeram história. Tenho a maior saudade da Elviro Carrilho e daquele povo todo.

MÁRCIO – No carnaval, por exemplo, a gente não podia nem discutir: era obrigatório ir para o clube. As crianças na matinê e os adultos à noite. Naturalmente acompanhado por mamãe nos dois turnos. Ela levava as crianças, voltava para casa e levava os outros.

MÉRCIA – Porque o pai estava lá, tocando.

MÁRCIO – Minha mãe era uma mulher sábia. Ela entendia que tinha que colocar os filhos para vivenciar determinadas situações, a fim de preparar-nos para a vida que ela chamava “em sociedade”. Ela costumava repetir: “Tem que aprender a viver em sociedade, tem que ver o que a sociedade faz”. Então, todas as oportunidades que tinha, ela obrigava os filhos a irem para poder ver como as pessoas deviam se comportar.

MÉRCIA – Eu chorava muito quando era obrigada a ir para os carnavais do América. A tal da alta sociedade frequentava o clube. Minha mãe obrigava também, e estava certíssima, a gente ir de sombrinha e tudo, assistir o desfile militar. Quando papai passava, ela gritava: “lá vem seu pai, batam palmas”. Todo mundo tinha que gritar e bater palmas. Ele passava com aquele trombone, não tinha nem como virar a cabeça. Mas ela obrigava.

MÁRCIO – Mamãe era uma pagadora de mico de primeira. Ela inventou o mico. (Risos).

MÉRCIA – Ela também não tomava sol. Tinha sempre que estar embaixo de uma sombrinha. Para você ter uma ideia, vi uma foto antiga daquele trampolim de Areia Preta. Só tinha aquilo. Mamãe levava a gente para fazer piquenique embaixo daquele trampolim, era a tal da farofada. Antigamente levava biscoito, aquela comida toda, para poder ir para as praias. Mas a sombrinha não faltava. Ninguém podia.

MÁRCIO – Não faltava nem a sombrinha, nem o perfume. Ela voltava de qualquer lugar se tivesse esquecido de passar perfume. Era muito vaidosa.

MÉRCIA – Batom e ruge nela eram infalíveis. Ela inclusive nos ensinou isso: que uma mulher não deve deixar de usar um batom e um rugezinho nunca. (Risos).

SUPERPAUTA – Você foi boa aluna? O que mais gostava no colégio?


MÉRCIA – Fui uma boa aluna. Tive sempre aptidão para escrever, desde criança. Com oito anos, eu já tirava notas altas nos ditados, dissertações e descrições. Eu gostava de fazer leitura em voz alta. Nunca fui muito boa em matemática. Mesmo assim, me saía bem e tinha notas altas. Desde criança tudo que era para escrever, pediam para mim. Adolescente, as amigas pediam para eu escrever cartas para seus namorados. Certa vez, a irmã de meu namorado pediu para eu ser a escritora de suas cartas, já que ela não escrevia bem. O cara se apaixonou pelas cartas e terminaram ficando noivos. Mas graças a Deus o noivado acabou. (Risos). Ele tinha se apaixonado pelas cartas românticas que eu escrevia.

SUPERPAUTA – Qual foi o seu primeiro emprego?

MÉRCIA – Comecei a trabalhar muito cedo. Aos dez anos, devido à minha fascinação por
máquina de escrever, obriguei mamãe a me matricular em um curso de datilografia. Aos onze eu já era datilógrafa com diploma e tudo. Minha irmã mais velha já trabalhava e eu tinha uma sede de liberdade muito grande. Ela conseguiu um emprego para mim aos 13 anos. Foi uma briga, papai não queria deixar.

SUPERPAUTA – Essa fascinação por máquina de escrever teria alguma explicação?

MÉRCIA – É porque eu sempre quis aprender piano. Quando eu era criança, as filhas das famílias mais abastadas meninas tocavam sanfona. Eu achava bonito, mas não achava que era o meu instrumento. Eu queria mesmo o tal do piano, mas era uma concepção impossível para nossa situação, naquela época. Na verdade, nenhum de nós teve instrumento até porque ninguém buscou. Intimamente, eu tinha esse desejo não revelado. Eu queria que descobrissem. Eu me insinuava de todas as formas, mas não falava, eu era hipertímida. Vim deixar de ser tímida depois dos 40. Ninguém acredita que fui tímida. Mas, com relação à máquina de escrever, eu costumo dizer que eu sublimei. Datilografar pra mim era música. Tanto que me tornei, modéstia à parte, uma excepcional datilógrafa. Isso norteou meus trabalhos em toda a minha carreira. Até hoje sou fascinada por digitação.

SUPERPAUTA – Onde você foi trabalhar, aos 13 anos?

MÉRCIA - Assumi meu primeiro emprego no escritório de representação da indústria de
sucos Maguary. De lá fui para a FG Pedrosa, que era uma famosa empresa de loteamento. O terceiro emprego foi no Diário de Natal. Fui levada pelo amigo Eduardo Gurgel, que chegou a ser administrador de lá. Ângelo Lagrota de Almeida Basto foi meu chefe. Trabalhei naquele prédio antigo da Rádio Poti. Tive a grata felicidade de conhecer todos aqueles grandes jornalistas, como Sanderson Negreiros, Berilo Wanderley, Domício, que chamavam Dodó... Ademir Ribeiro tinha um vozeirão maravilhoso. Foi uma parte deliciosa da minha vida. Foi quando a turma de Brasília, liderada por Ari Cunha - atual vice-presidente institucional e que na época era o diretor da área técnica – foi inserir o offset na redação do Diário. Ari Cunha foi quem me treinou na famosa IBM Composer, que era uma novidade. Também conheci Edilson Cid Varela. Ele vinha todo mês na contabilidade, onde eu trabalhava e entregava os livros para ele assinar.

SUPERPAUTA – Como foi a vinda para Brasília.

MÉRCIA – Casamos e resolvemos começar a vida em Brasília. Meu marido também era de Natal, trabalhava em Marpas. Viemos com a fantasia de que Brasília era o paraíso, um eldorado. Que bastava ter um apartamento, algumas almofadas e um tapete no chão que a vida seria fantástica. Não foi bem assim, mas não vou falar nas agruras. Deixa pra lá, foram todas superadas. Foi difícil. Nos conhecemos no Padre Miguelinho. Ingressamos juntos na faculdade de Administração. Tererê... Eu engravidei. Esse foi o motivo de o casamento ter sido antecipado. Tão logo chegamos, tivemos a felicidade de sermos admitidos.

Trabalhamos em diversas áreas, ele mais no ramo de concessionárias de veículos. Comecei como secretária. Quando fui contatada pelo Correio Braziliense, eu já tinha trabalhado muitos anos na Mesbla, Skol... Fui vendedora de “n” coisas e cheguei a ter uma pequena boutique. Três dias depois do meu ingresso, o doutor Edilson faleceu.

SUPERPAUTA – Na mudança para Brasília você já conhecia a cidade? Qual a impressão que ela lhe passou?

MÉRCIA – Não. As únicas referências que tínhamos aqui era minha avó do Rio de Janeiro, que foi pioneira no Gama e tinha vindo morar em Brasília, um tio que veio de São Paulo para cá e um irmão dele que trabalhava como artesão na torre. Qualquer coisa tinha esses parentes. Fora isso a gente tinha as notícias que todos tinham de Brasília: de progresso, prosperidade e de um mundo novo. Cheguei em 2 de janeiro de 1972. Fiz alguns concursos, mas por imaturidade não assumi. É o que fiz de mais errado na vida. (risos). Penei muito por não ter assumido um desses concursos. Mas quando voltei a trabalhar no mundo jornalístico eu já estava mais desinibida e descobri outras aptidões. Eu ajudava na revisão e gostava de ficar ensaiando dar títulos. Eu sempre estava soprando alguma coisa. No Sindicato dos Jornalistas entrei como auxiliar de gerência, passei a gerente e depois fui coordenadora de cursos, secretária executiva. Era um mundo novo e eletrizante. Digo que adoeci de tanto trabalhar. Um sindicato com 25 diretores é uma loucura. Mas eu gostava. Fiz grandes amigos, tenho muitos até hoje. Eu diria que tive uma vida rica, da qual me orgulho. Foram muitas experiências, meus filhos são excelentes profissionais, todos formados, graças a Deus.

SUPERPAUTA – Fale um pouco sobre eles.

MÉRCIA – O primogênito, Erick Dantas, aos 25 anos foi nomeado um dos diretores da CTIS, que era a maior loja de informática do Centro Oeste. Foi o segundo emprego dele. Trabalhou durante muitos anos lá. Depois resolveu ser empresário por conta própria e em seguida passou a cursar Direito. Hoje é sócio-proprietário da Catta Preta, Cerqueira e Dantas Advogados Associados. Também é professor de Direito. A segunda, minha filha
Elsie, trabalhou muitos anos no Correio Braziliense, mas hoje é funcionária da Caixa Econômica. É formada em Ciências Contábeis. A Lea trabalha com gestão pública e é formada em História. É coordenadora de projetos no Ministério de Desenvolvimento Social. Antes, chegou a implantar projetos no Chile. Lívia, a caçula, é formada em Turismo. Ela é uma empreendedora! Aqui no Sudoeste passou algum tempo na área de divulgação de comércios e eventos. Ela é uma auxiliar da Prime, empresa do meu irmão.

MÁRCIO – Ela desenvolveu um site para divulgar o comércio do Sudoeste. Chama-se Sudoeste Virtual (http://pt-br.facebook.com/sudoestevirtual). Ela transita nessa área da eletrônica e da cibernética.

MÉRCIA – Ela tem muitos clientes de sites. Também trabalhou em empresa que atua com turismo. Eu diria que ela é uma multimídia.

SUPERPAUTA – Depois de aposentar a máquina de escrever, não chegou a hora do piano?
MÉRCIA – Há seis anos me tornei evangélica e na minha igreja tem vários cursos de música, inclusive de piano. Comecei a estudar piano. Infelizmente, me acovardei. Eu já estava com seis meses de aprendizado, mas me senti uma criança. Acho que aquela criança de dez anos ressurgiu. A professora, toda animada, disse que eu tinha muita musicalidade, que queria começar a me ensinar a tocar hinos religiosos. Eu me acovardei e não fui mais às aulas. Mas ainda é um sonho. Ainda não foi extinto.
SUPERPAUTA – Que outras aptidões o contato com a redação do Correio despertou em você?
MÉRCIA – Comecei a escrever mais, e até desvendei uma veia para crônicas. Também passei a escrever a partir de matérias e fatos jornalísticos. Tenho o projeto de um livro que se chamará “Fotografia da Alma”. Parece que tem sempre algo a acrescentar. Tenho me dedicado a fazer registros, evocações de lembranças familiares...
SUPERPAUTA – Alguns dos escritos que integrarão o livro estão disponíveis no blog http://fotogrfiadaalma.blogspot.com.br/
MÉRCIA – Nesse blog estou coletando algumas coisas, mas não tem tudo. Escrevo mais emoções minhas. O escritor, efetivamente falando, escreve para alguém. Não é o meu caso. Tenho usado o Facebook como treinamento. Aqui e acolá me exponho. Dia desses escrevi a respeito das manifestações no Rio, enfocando a morte do cinegrafista da Band. Tudo o que eu escrevo é um exercício, para não perder o hábito. Aproveito enquanto tenho uma memória razoável. Perdi parte dessa memória porque fui fumante durante quase 40 anos. A vontade que tenho de escrever não é sempre, é só quando sinto uma emoção, ou algo que desperta esse desejo.
SUPERPAUTA – Você se estipulou um prazo para lançar esse livro?
MÉRCIA – Não. Minha filha, a “expert” na informática, quer que eu coloque esse livro em PDF, na Amazon. Vive pedindo que eu selecione e faça a revisão. Vou ver se em algum momento, quando ela tiver uma folguinha, a gente publica. O título é em cima de um autorretrato, um escrito que fiz falando sobre mim mesma. “Fotografia da Alma” diz respeito à minha pessoa. A maioria das coisas que escrevo são momentos meus. Achei o título pertinente e interessante.
SUPERPAUTA – Além de crônicas, você também escreve poesias.
MÉRCIA – Nem arrisco dizer que são poesias. Não tenho a pretensão de me classificar nem como escritora, nem como poeta, mas sei que tenho uma veia. Tenho uma tia, Antonia, que eu chamava “a Coralina da família”. Ela já faleceu. Era uma poetisa muito boa. Alguma coisa herdei desses Dantas. Eles deixaram alguma coisa voando e aqui e acolá a gente se encontra neles de alguma forma.
SUPERPAUTA – O livro vai incluir também as poesias ou apenas as crônicas?
MÉRCIA – São mais poesias. Crônica é uma aptidão à parte que estou buscando mais recentemente. Tenho ensaiado algumas crônicas do cotidiano. Sou muito observadora. Sem querer termino registrando coisas interessantes do dia-a-dia. Acho muito divertido. Eu tenho essa coisa da observação do outro, de enxergar o comportamento das pessoas, de perceber momentos e situações. Tenho essa facilidade de observar e registrar.
SUPERPAUTA – E tem talento para escrever. Não adiantaria apenas observar e não conseguir transformar aquilo em palavras, verbalizar.
MÉRCIA – O talento fica por sua conta. Eu me considero eterna aprendiz. Tenho coração de estudante. Na verdade eu nunca deveria ter saído da escola. Podia estar estudando línguas, piano ou qualquer coisa. Sou uma boa leitora. Eu sou aposentada, vivo sozinha e tenho tempo para isso. Além de gostar.
SUPERPAUTA – O que você costuma ler?
MÉRCIA – Acabei de ler “Províncias – Crônicas da Alma Interiorana”, de Marcelo Canellas. Ele também é um jornalista que eu amo de paixão. Estou lendo “Diário do Avoante”, de Nelson Mattos Filho, nosso conterrâneo. Ele lançou recentemente em Natal. Li o livro de Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, “Dos Bondes ao Hippie Drive-in”. Espetacular.
SUPERPAUTA – Estou vendo que você também desenha.
MÉRCIA – Teve uma fase que comecei a fazer alguns rabiscos e fui desenvolvendo como autodidata. Desenho com giz cera, mas simplesmente só consigo fazer ao ritmo de música. A música está na minha veia, não tem jeito. Não escapo dela. Desenvolvi essa técnica e fiz mais de 4 mil desenhos. Terminei fazendo um vernissage. Presenteei algumas pessoas, tive uma publicação sobre isso, mas fui deixando. É algo que eu deveria retornar. Mas, como tudo na minha vida, as coisas não são pré-definidas. Depende do momento.
SUPERPAUTA – Você poderia até escolher um dos seus desenhos para ilustrar a capa do livro.
MÉRCIA – Larguei o desenho. Foi uma fase muito bonita, que eu poderia ter ido além. Mas as circunstâncias impediram. Eu me separei, fiquei com quatro filhos, tive que trabalhar. Tive muitos projetos pessoais que foram deixados à parte porque existe uma coisa maior chamada sobrevivência. Eu sempre fui muito responsável. Então preferi prover bem a minha família e fiz o impossível e o possível. Cheguei a trabalhar pelo menos seis anos sem tirar férias. Até me tornei uma workaholic. Não achei brechas para outras oportunidades. O trabalho e a luta pela sobrevivência se tornaram o principal na minha vida. Quem sabe daqui pra frente surja alguma coisa? Tudo é uma questão de oportunidade e momento.
SUPERPAUTA – O Rio Grande do Norte prestou o reconhecimento devido aos grandes músicos da sua família?
MÉRCIA – Vou fazer minhas as palavras de Luiza Maria Dantas. Recentemente ela disse que hoje em dia, de uma forma geral, dão ênfase a músicos que não têm tanta qualidade. A nossa cidade tem pessoas de muita qualidade na área musical. Não estou mais lá, mas procuro acompanhar o que está acontecendo. Vejo que novos espaços estão surgindo. Gosto de ler a Tribuna. Acompanho as notícias veiculadas por Clotilde Tavares. Essa falha de não valorizar os bons artistas de verdade não é exclusiva de Natal. Os grandes nomes, as pessoas geniais em termos de música estão esquecidas. Então, esse resgate que fizeram com meu avô me deixou emocionada. Fiquei sem palavras, pois não é comum esse reconhecimento. Lembro que Nana Caymmi falou certa vez que sente mágoa do Brasil porque não tem público aqui. É obrigada a sair para cantar fora. Tantos outros brasileiros fantásticos enfrentam o mesmo problema. Também fiquei triste em ver o Roberto Carlos com aquela Anita do lado. Não tenho nada contra a moça, ela é bonita, poderosa, mas aquilo não é música.
SUPERPAUTA – O ideal seria que essa homenagem a Tonheca, ao invés de exceção, fosse regra.
MÉRCIA – Sim. Na nossa cidade proliferam jornalistas, intelectuais, poetas, escritores, grandes nomes políticos, gente da música e de outras áreas. Por falta de divulgação e reconhecimento, a juventude termina não olhando para o passado. Não me imagino sem o passado para mirar. Quem não tem passado, não pode ter futuro.
SUPERPAUTA – Você já viu o por do sol no Potengi onde Royal Cinema é a principal música executada?
MÉRCIA – Infelizmente, não. Mas falei para mil pessoas. Sou uma divulgadora fantástica. Cheguei a programar, mas não deu certo.
SUPERPAUTA – O que faltou perguntar?
MÉRCIA – Não sei. Fale um pouco com Márcio.
MÁRCIO – Não. Você é o registro mais importante da família.
MÉRCIA – Márcio nasceu em Natal no exato momento em que Brasília foi inaugurada. Talvez por isso ele tenha uma grande simbiose com a cidade. Enquanto ele nascia, eu, inocente, juntando as menininhas na calçada para a gente ver a chegada da cegonha. E papai ouvindo a inauguração de Brasília pelo rádio. Quero fazer um pedido: que você coloque uma fotografia minha com ele no jornal.
SUPERPAUTA – Já fiz várias fotos, algumas incluindo ele também. Nem se preocupe.
MÉRCIA – Márcio é 10 anos mais novo do que eu, mas quando tenho alguma dúvida ou preciso de algum conselho, é com ele que eu me oriento. Acho que ele é o equilíbrio da família.
SUPERPAUTA – É o que tem juízo.
MÉRCIA – Pronto. Você definiu muito bem. Matou a xarada. É isso mesmo.
MÁRCIO – Vixe Maria!
SUPERPAUTA – Deixe um recado para quem ler esta entrevista.
MÉRCIA – Como Márcio é o que tem juízo, vamos deixar o recado por conta dele.
MÁRCIO – Procurem ter memória, criem o hábito de ter memória que é uma coisa legal. Hoje em dia as pessoas não se preocupam com isso. Não se dão conta que um dia a memória pode ser muito importante, um referencial muito importante na construção de qualquer coisa na sua vida. Valorizar o passado é o recado que precisa ser deixado.
MÉRCIA – Adorei!
Foto: Lea Dantas


6 comentários:

  1. Mércia dá-nos uma lição de vida com sua paixão por viver, suas memórias de luta e engajamentos. É pessoa de garra, de conteúdo e que nos incentiva com sua coragem, alegria e energia. Parabéns a ela, ao Márcio e ao Roberto. Tô superfeliz por ter sido o elo entre entrevistador e entrevistada. Parabéns!

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  2. Quando o André falou-me de Roberto, fiquei reticente e sem graça. Mas, ele incentivou-me por achar que eu tinha o que contar. Agora vendo a entrevista, vejo o quanto foi bom e útil para os descendentes terem esse registro, até porque não vivenciaram esses momentos. Meu pai sempre foi muito reservado e sem interesses em divulgação e por isso mesmo quase não tem material guardado. Mas contava muitas histórias e, como eu estava sempre perto e acompanhava atentamente tudo o que acontecia em sua vida, ouvia e guardava o que hoje categorizo como grandes e preciosas lembranças. Pena que os recursos técnicos que temos hoje não dispúnhamos à época. Teria um documentário e tanto pra posteridade. É verdade, amigo André, tenho paixão por viver e muita fé em Deus, a maior herança deixada por minha mãe. Ela nunca permitiu - enquanto éramos menores - que faltássemos à igreja aos domingos e orava conosco todos os dias antes de dormirmos. Obrigada por essa maravilhosa oportunidade.

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  3. Parabéns pelas lembraças.

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  4. Sou amigo de Márcio Dantas há muitos anos e conheço as histórias maravilhosas de Mércia, fico feliz em poder ouvir esses ensinamentos para se viver em sociedade. Parabéns! Gustavo Brito - Natal.

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  5. Brilhante entrevista. Pelo talento do entrevistador e pela bagagem cultural dos entrevistados.

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  6. Alegria num dia, tristeza no outro, Assim é a vida! O trombone calou, meu pai faleceu um dia após a divulgação da entrevista no blog por esse especial jornalista e conterrâneo, que vim a conhecer há pouco tempo. Agradeço a Deus e ao autor do blog a felicidade de tê-lo homenageado ainda em vida. Um grande homem, meu único ídolo, meu pai.

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